Da cozinha pra sala

Um dia. Ops.

Uma noite. Um ano e meio atrás.

Meu pai estava por fazer 90 anos.   Uma data assim precisa de um presente memorável. Só palavras me vieram.

Nada mais.

Assim.

Os 90 anos de meu pai.

Dias atrás ele reclamava das dores e pedidos de perdão. O peso da idade. Lembrei a ele seus irmãos. Como gostariam de estar aqui também e completando esta idade.

Enfim, o dia chegou.

Minha mãe, sim, vamos começar por ela. A matriarca. 60 anos vividos juntos. Mulher dura ou endurecida e firme. Emocionada simplesmente com a visão de todos estarem presentes.

Seus três filhos geniosos, fortes e saudáveis. Genro e nora, quase filhos pela quantidade de anos já estando na família. Seus netos Nathan e Alexandre, tão jovens e guerreiros e sua mais nova neta Flavia. Alexandre e Flavia se conhecendo e crescendo no matrimonio e vida em comuns.

Meu pai e seus 90 anos realizando o que muitos buscam. Sabedoria.

A paz em seu semblante e palavras vindas de muitas horas, reflexões e vivencia. Lindas e apropriadas. Humildes como só os sábios e sabedores conhecem.

Ele na sua harmonia, harmonizou a orquestra.

Seu filho Rubinho sempre observador e reservado. Apto para exercer seu papel de conselheiro.   Mari como boa esposa do filho mais velho também recatada e do lar.

Eu, como filha do meio tentando de todas as maneiras aparecer e ser ouvida. Ainda é cedo.

E a nossa neném. Sempre a cerejinha do bolo. Não precisa fazer nada, só estar presente. Não precisa exercer controle e controlar. Basta somente sorrir e a festa está feita. Beijo a todos.

Da cozinha para a sala.

Foi um insight.

Muito pequena, numa cidade do interior. Eu, minha irmã, minha prima Raquel. Sempre brincando na casa de nosso avo.  Minha avo costurando na sua salinha reunida com suas filhas, nos suas netas orbitando.

Dali a cozinha, sem dúvida o melhor lugar para estar a macarronada da nona…

Continuo depois estas recordações…

Agora os dias de hoje a sala

Passados 58 anos estou eu aqui na sala a minha adorada sala de leitura

Da cozinha para a sala

Quantos passos temos que realizar para vivermos todas estas experiências.  Vamos contar.

O cheiro do alecrim, a cebolinha da horta que nos diabinhos pisávamos só para ouvir os estalos…

O frango ensopado com polenta ou macarrão caseiro… hum que delícia. Posso sentir o cheiro

A vocês perderam de ouvir as gargalhadas gostosas do tio Airton quando contava uma piada… São lembranças que aquecem nosso coração e nos enriquecem de boas memorias… O resto, dele nada resta.

Tem o galinheiro do vô Zanella sempre limpo, adorava brincar de casinha nele… hoje quando visito minha cidade natal corro encontrar vestígios deste passado tão presente na memória.

Saudades de pessoas queridas que se foram, mas ficaram em nossos corações seus cheiros e sabores… O churrasco no country com tio Airton… as codornas sendo colocadas no óleo para curtirem e serem apreciadas depois. O cafezinho da dona Cleir. A amorosidade e silencio zeloso da vizinha dona Maria uma Ariana do dia 10 de abril e seus filhos e marido pessoas tão integras que até hoje me servem de norte… dona Norma outra vizinha querida tentando arrumar meus cabelos com Biorene… amores tão queridos…

Claro que neste mundo tínhamos medos… vento, trovão, chuvas fortes

Tombos de bicicleta, nota baixa na prova de matemática… o olhar severo da mãe a surra do pai, os safanões do irmão

Agora aqui na sala as lembranças, marcas que parece cimento colando cada tijolo na minha história. Nossas histórias…

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